Um blog partilhado por Felisbela Fonseca e Nuno Catarino.

17 julho 2004

Depois acorda-me... devagar!

Traz o vinho, toca a campainha, sobe as escadas, vem bonita, vem. Chega às oito, um bocado antes ou um bocado depois, vem cá ter. O duche de fim de praia vai-te saber bem, sabe sempre tão bem. E a noite poderá ser mais quente que o dia. |N|

Passei por casa a correr eram já sete e o tempo voava. Deixei a água a correr enquanto tentava decidir que roupa vestir. Não decidi. Tomei um duche rápido e voltei ao roupeiro. Não tenho tempo. Umas calças de ganga e uma blusa bonita é quanto basta e sei que gostas mesmo assim. Vou a voar, na boleia do tempo. Chego um pouco depois das oito com uma garrafa de vinho verde, fresco, para arrefecer a noite. |F|

E então quando entraste aquela minha casa pequena ganhou outro ar. Ajudaste-me a cozinhar, enquanto sorrias e mexias comigo. E no fim, enquanto enrolavas o cabelo com os dedos, bebíamos a música, deixamo-nos ficar enrolados no sofá na beleza terna da noite. |N|

15 julho 2004

O Sol

O Sol é amarelo e grande. Mas para nós não vai ser hoje. Deixaste-me sozinho. Talvez vá na mesma, sozinho. Talvez deixe enterrar os pés na areia. Mas de certeza que não vou pensar em ti nessa altura. O mar vai fazer esquecer a tua bondade. E eu direi que não me lembro de ti, mas mentirei. {N}
 
A areia era mais fina do que me lembrava. Ainda bem que me levaste, ainda bem que molhei os pés na água fria, ainda bem que não te deixei ir sozinho. E de todas as vezes que repetirmos essa cerveja ao fim do dia, temos a certeza que a vida é maior, bonita e está para além do sol que depois se despede deixando-nos só sombra. {F}

Uma forma pequena de matar a saudade imensa

Princesa, espero que ao tempo que recebas estas pequenas palavras ainda sejas a chama de ternura que me perdura na memória. Que essa floresta feia e triste e longínqua que te assombra não te prenda para todo o sempre e te deixe regressar. De repente voltaste, mas foi um relâmpago, e tão depressa passei os olhos pela tua querida beleza como te foste para longe, outra vez. Regressa. Para mim. {N}
 
Colho as tuas palavras com a mesma ternura de sempre. Aqui não há flores, nem lagos de espelho e o frio corta-me a pele. Estou longe mas sabes tão bem que te tenho perto e que é o teu sorriso que me aquece neste tempo interminável. Não te percas na minha ausência. Voltarei para ti. {F}

13 julho 2004

A Infernal Temperatura Glaciar

A neblina ensombrada da noite há-de acabar com o nosso calor. Havemos de voltar ao refresco de uma bebida on the rocks, as pernas cruzadas e o olhar desviado pelo horizonte. Mas, por enquanto, à brutalidade deste calor que nos assola não conseguimos fugir. Sim, aqui está aparentemente frio, mas a fome que tenho de ti queima-me todo por dentro. |N|

Pois que se faça noite, escura e quente, para nos agasalhar do frio das longas horas dos dias intermináveis. O frio não pára e nada pode deter este arrepio. Tenho as mãos geladas. É esse gelo que já tarde se derrete, devagar, sobre os corpos quentes para depois me deixar a boca molhada em cada beijo que te dou. |F|

I'd rather die in her sheets

Não chores até eu chegar,
e enquanto eu não voltar, por favor, não deixes de rir.
Quando começar a minha música não deixes, não deixes continuar
e espera que eu te cante todas as palavras ao ouvido.
E enquanto estiver longe vou tentar não morrer.
|F|

12 julho 2004

O Afogamento

A banheira cheia... a encher-se de espuma. Afundei-me nela, com a cabeça cheia, a encher-se de tudo. Fiquei ali a mimar o corpo, a destilar a alma. Debaixo de água os sons são mais bonitos. {F}

Deixaste um cd a tocar, a difundir magia pela casa. O corpo afundava-se na água, ficava leve. De vez em quando a cabeça ia abaixo da água e o mundo era um pouco diferente. Pendurado no lugar da toalha, o bikini mirava-te a nudez debaixo da água. Estavas límpida, não te ousei incomodar. Só entrei para te fazer companhia depois de me teres chamado duas vezes, da primeira vez tentei resistir, à segunda vez a tua voz foi mais forte. Podemos repetir? {N}

Vieste ao som da música. Primeiro chamei-te devagarinho, soprei o teu nome sobre a espuma que dançava em cima da água morna. Como é que me ouviste? O bikini pendurado à espera de outros dias de sol, de outros banhos salgados. Depois chamei-te e vieste sem fazer barulho. Como sabes dos meus segredos? Acordei contigo ao meu lado, os cabelos ainda molhados e os teus também. Soprei-te ao ouvido... sim, podemos sempre repetir. {F}

Por momentos fomos líquido. Misturados na espuma, dissolvemos os nossos corpos na água, um no outro. A música, por cima de nós, ajudou-nos a fazer bolhas. E em cada verso que cantaste, em cada beijo que te dei, submergimos, afogamos o dia. {N}

Os Lençóis

Sabias que o sol começa nos teus olhos doces e que o mundo pára cada vez que sorris. Era assim que acordava, com raios de sol a inundar-me o corpo nú que se rendia a todos os gestos delicados com que me dizias "Bom dia, querida". Sabias que o luar mais lindo era o teu beijo adormecido sobre os meus lábios quentes e que os sonhos nasciam em cada sono partilhado. Era assim que te queria até ao dia em que não me acordaste a meio da noite para aconchegar os lençóis que nunca tinham fim. {F}

A sombra da tua ausência exponencia a distância que nos dói. Como se a doçura de uma noite pudesse alguma vez ser esquecida. Inesquecível como o sorriso que me lanças no momento anterior à mutação do teu corpo em espelho perfeito do meu. {N}