Um blog partilhado por Felisbela Fonseca e Nuno Catarino.

20 novembro 2004

Quarto Minguante [II]

Saboreou mais um pouco do copo alto... o gelo a derreter. Imaginava-a a entrar por aquela porta, com o sobretudo cinzento e o cachecol de lã enrolado no pescoço e nos lábios o beijo que lhe oferecia antes do imenso sorriso que quase sempre o emocionava. Imaginava-a acender o cigarro ocasional num gesto terrivelmente feminino enquanto provava do licor que pedia depois do café e que lhe adoçava ainda mais a boca. Rouba mais um cigarro ao maço apertado no bolso direito dos jeans e a noite segue fria, solitária, sem conversas nem lábios doces, só a lua magrinha pendurada no céu negro.
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16 novembro 2004

Lua Cheia [I]

Bebia imenso de todas as vezes que ela chegava mais tarde, de todas as vezes que a saudade dava e sobrava para encher mais de meia dúzia de doses daquele whisky velho que aprendeu a beber ao mesmo tempo que aprendeu a viver sem a sua doce presença. Os copos altos, dourados, com três ou quatro pedras de gelo mesmo até acima seguiam-se num vagar nocturno a que o corpo já estava habituado e a cabeça não tinha como recusar. Primeiro fazia o copo dançar entre as palmas das mãos quentes que faziam o gelo estalar e tilintar muito baixinho enquanto as pedras se encaixavam umas nas outras para depois se afundarem juntas e depois de as fazer rodar sobre si mesmas provava o dedo indicador e era assim que desenhava o primeiro sorriso de todas as noites.
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