Cara de Anjo Mau
A brancura tenra daquela noite exaltava-o e os cheiros quentes em seu redor agudizavam a voz da Loucura que o chamava. Vem cá, vem cá, dizia ela. Ele ia. Ela olhava-o a chegar, naquela aproximação que formava calores. Beijava-o com força quando ele chegava, beijava-o antes das palavras, beijava-o e ele seguia apaixonado aquele carreiro feito por eles, que só eles sabiam, e atalhavam em direcção à ternura fofa da Morte. Certificaram-se que as beatas estavam mesmo apagadas e só depois seguiram caminho. À sua passagem, a cabeça da galinha madrugadora sem cabeça mexeu-se, como se quisesse bater as asas em falta. Eles desviaram-se, desviaram-se, desviaram-se até se deixarem afundar abraçados no pântano que iluminava a selva escura ao redor, a selva perdida no meio da cidade triste que ao longe o Jorge Palma baloiçava numa música carente.