Um blog partilhado por Felisbela Fonseca e Nuno Catarino.

04 setembro 2004

Post para esta madrugada de vida

A vida em todas as suas formas, sentidos e cores, em todos os dias e noites, em todas as madrugadas frias e em todos os amanheceres ofuscos, a vida tem que ter massa, tem que ter textura, tem que ter sangue quente a correr, tem que ter luz ao fundo do túnel, tem que ter um beijo, um abraço apertado, um gesto leve mas grande, tem que ter um sorriso do tamanho do mundo e uma mão aberta perante braços estendidos. A vida tem que ser como o mar, grande, muito grande, tem que ser um céu, imensurável, tem que ser uma constelação onde encontramos um lugar que faz sentido... tem que ser cheia, muito cheia, de tudo. |f|

Um discman à mesa

Levei o teu discman. Deixei-o em cima da mesa da cozinha a fazer-me companhia às refeições ou nos bocadinhos que fico sentada numa das cadeiras cor-de-laranja a ver a máquina de lavar às voltas e eu à espera que aquele rodopio acabe para deixar a roupa logo a secar, porque assim fica menos amarrotada e poupo-me a horas de escravidão ao ferro, esse instrumento terrível ao qual só me rendo em casos muito, muito excepcionais. O discman em cima da mesa, calado, sem pilhas nem cd's, nem transformador e tão pouco os phones... absolutamente inútil, mas um olhar bastava para que as músicas voltassem, mesmo que fosse aos saltinhos porque o leitor já está cansado de alimentar este vício tão grande. Ontem jantei sozinha, sentada numa das cadeiras cor-de-laranja... Levei o teu discman. |f|

02 setembro 2004

Desapareceste-me

Os dias foram passando. As férias como desculpa fácil para almas inquietas. O sol a aquecer e por dentro um frio tão grande, tão grande. Desapareceste-me como o sol no inverno. |f|

O sol fugiu contigo, chegaram nuvens, veio a chuva. O tempo não fez esquecer a ausência. Por vezes sinto um aroma breve de tangerinas, mas já não és tu. E sei que no dia em que sorrir por te reencontrar vou tremer ao sentir os lábios tão próximos a soprar-me coisas quentes ao ouvido. |n|

Chove, chove e eu nem me lembrava do cheiro da chuva, do toque frio das gotas, primeiro leves, depois a carregar os ombros gelados. Chove e talvez assim consiga disfarçar as lágrimas deixo fugir enquanto fugo desta chuva fora de horas, inesperada. |f|

Sim, a chuva disfarça, mas parece tudo mais feio. Vieram as férias e tu foste para não voltar. Depois veio a chuva, que não te trouxe, veio só um choro de água triste e incómoda. É na lembrança das tuas curvas belas de alegria que consigo respirar. |n|

O sorriso volta a mim depois da chuva, de cada vez que o teu sol me invade. Curvas e contracurvas de felicidade nos mimos doces desses olhos incapazes de expressões mais ousadas mas tão cheios de vontade. O fim das férias, a chuva, as mangas compridas e as sombrinhas de sol coloridas a dar lugar a chapéus negros para a chuva. Falta-me o ar. |f|