Um blog partilhado por Felisbela Fonseca e Nuno Catarino.

02 junho 2004

Água Salgada

Naquele dia chorou, chorou como se as lágrimas não tivessem mais fim, como se toda ela fosse água. E foi então que pensou que talvez depois pudesse boiar nas lágrimas e descansar um pouco.


[F]

Serão na Província

Meu doce de abóbora, quero-te toda - disse o ogre esfomeado. O mostrengo assinalou o momento com uma salva de palmas - o bicho faz anos!, disse. O bicho saía de casa poucas vezes ao ano e nesse dia de certeza que ia sair. Alegraram-se todos. Vai pagar copos à malta, vai pagar copos à malta, vai pagar copos à malta - era o pensamento de todos. O ogre também foi, esquecido da sua abóbora, que repartiu esse serão entre a lida da casa e um programa de televisão apresentado pelo José Carlos Malato. O ogre chegou a casa bêbado e caiu na cama, a abóbora já está à espera, deitou-se ao seu lado. O bicho voltou para a toca e só saiu dali a muito tempo. Durante muitos dias o mostrengo não bateu palmas. [N]

01 junho 2004

Hoje é dia da criança

Quem olha não diz a idade que tem. Sempre teve ar de miúda, e mesmo quando era tempo de o ser era mais miúda que as outras da mesma idade. Nunca se importou com isso, nem nunca teve a ambição de parecer mais velha, de ser crescida, de ser uma mulher antes de tempo, nem queria saber dessas coisas "miudinhas"! Depois o tempo passa e ser menos miúda torna-se mais uma imposição do que uma vontade e lá se vai disfarçando. Para parecer mais mulher, mais madura, menos miúda, nem é preciso muito. Umas calças mais elegantes e uns saltos altos resolvem quase tudo. Depois é só juntar pequenos detalhes e já está... mas ao fim do dia os pés estão mais cansados e os olhos meios esborratados porque o cuidado com estas coisas é distraído. Quem olha não diz a idade que tem. Sou a miúda de sempre... Uns chamam-me Felisbela, outros Bela ou Belita e outros há que me chamam Lisbelinha.


[Desenho de Luísa Gonçalves]