Esta noite papo a Teresa
Esta noite papo a Teresa. Só falta meia hora para a gala e não sei ainda que perfume usar. A Teresa, a Zé e a Ana vão lá estar. Alguma há-de passar a noite lá em casa. Pelo menos assim espero. Já não trago cá ninguém desde aquela da discoteca, nem me lembro do nome, já foi para aí há um mês. A Teresa vai ser difícil mas vou começar por ela. Ainda hoje no escritório lançou umas dicas. Vou tentar, não perco nada. E se não der, passo à Zé. Mas a Zé é um bocado maluca, quando se põe com aquelas conversas daquelas cenas góticas e dos livros esquisitos que anda a ler. .Vou tentar é ser discreto, para a Ana não ver. Se nenhuma destas quiser levo a Ana, que se lixe. A Ana é mais fácil. O pior é que depois se vai pôr com tretas de sentimentos e mais não sei o quê e já não gostas de mim e agora já gostas e eu não tenho paciência nenhuma para aquilo. E não lhe gramo aquelas meias, sempre pretas, se ainda andasse como as outras, com as meias de rede debaixo da saia preta, ela não, parece que não tem o mínimo bom gosto. Mas em contrapartida é só querer. Mas primeiro vou à Teresa, é certo. E, se não der, à Zé, que deve ser uma maluca na cama. Ou meto-me com todas e depois iam todas lá a casa. Isso é que era bom. Mas o que me interessa agora é o perfume. Que raio de frasco vou abrir? Este da embalagem esquisita é um bocado amaricado mas elas gostam. Eu é que não gosto muito. O da embalagem quadrada é mais vulgar. Mas eu gosto. Faltam vinte e nove minutos e ainda não me decidi. A minha sorte é que tenho o fato passado, por sorte já estava todo arranjadinho. Só me avisaram que conseguiram o convite há minutos, foi mesmo por sorte, e aqueles papalvos esqueceram-se de me avisar mais cedo. Porra, os sapatos estão sujos. E agora nem tempo tenho para os limpar como deve ser. Mas com este gel ninguém me vai olhar para os sapatos. As patilhas estão bem. Eu gosto. Algumas dizem que não gostam, mas deve ser só para se meterem comigo. Os dentes é que podiam estar mais brancos. Tenho de os lavar mais vezes ao dia. Tretas. Digo sempre isto e depois nunca faço nada. Como em tantas outras coisas. Como sempre. Amanhã há futebol, em casa do Rui, tenho de lhe levar o dvd. O Harrison Ford é um grande actor. Eu gosto mais dos filmes do Indiana Jones mas quando ele faz de presidente da América vai muito bem. O filme é que é um bocado chato, principalmente quando eles se põe a falar de política e mais não sei o quê e não sei que mais. Tenho de lhe levar o dvd. Ou então não. Digo que me esqueci. O filho da mãe tem aqueles meus cds todos e ainda não mos devolveu. É isso, quando ele se lembrar eu também me lembro. É justo. Pronto, já não estão tão mal, os sapatos. Espero é não os sujar pelo caminho. Pois é, o chão deve estar cheio de poças de água. Com aquilo que tem chovido não me admirava nada. Porcaria de tempo, no sábado não vai dar para ir jogar à bola no campo do Inatel. Tenho de falar disso com o Tiago, logo. Espero que aquele cromo apareça lá. Arranjaram um convite para ele e tudo. Ele não é muito destas coisas, raramente sai à noite, mas esta noite vai ser especial. A Mónica vai lá estar. A Mónica é bonita. E muito querida. E ele é um grande idiota, se calhar não merecia tanto. Mas é um tipo porreiro. Acho que ficam bem. Talvez hoje eles percebam o que até agora não quiseram ainda perceber. Se não for hoje o melhor é desistir. Tenho de calçar os sapatos, escolher o perfume, descer as escadas, que o elevador está avariado e o raio do senhorio nunca mais trata do assunto, dar uma boa noite à senhora da loja que fica mesmo à porta de casa, caminhar pela calçada até ao café, encontrar-me lá com o Sérgio, beber um whisky em dois goles só para alegrar e depois vamos os dois até à festa que ele leva o carro. Mas agora faltam dezanove minutos. E ainda não me decidi sobre o perfume.
[NC]