Lua Cheia [I]
Bebia imenso de todas as vezes que ela chegava mais tarde, de todas as vezes que a saudade dava e sobrava para encher mais de meia dúzia de doses daquele whisky velho que aprendeu a beber ao mesmo tempo que aprendeu a viver sem a sua doce presença. Os copos altos, dourados, com três ou quatro pedras de gelo mesmo até acima seguiam-se num vagar nocturno a que o corpo já estava habituado e a cabeça não tinha como recusar. Primeiro fazia o copo dançar entre as palmas das mãos quentes que faziam o gelo estalar e tilintar muito baixinho enquanto as pedras se encaixavam umas nas outras para depois se afundarem juntas e depois de as fazer rodar sobre si mesmas provava o dedo indicador e era assim que desenhava o primeiro sorriso de todas as noites.
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