Um blog partilhado por Felisbela Fonseca e Nuno Catarino.

15 junho 2004

O Garrincha havia de gostar deste golo

Cajó recebe a bola da direita, pára, dribla o defesa, vai à linha e faz o cruzamento. O avançado remata, de cabeça, para fora. Dez minutos depois Cajó repete a jogada, mas desta vez o avançado marca golo. Ele festeja, corre para abraçar Cajó. Cajó lembra-se da amante que visita algumas vezes durante a semana numa terra perto da sua enquanto a mulher fica em casa a ver a novela. Cajó teve uma boa carreira, nos seus melhores anos chegou até a jogar num clube da segunda divisão, mas passou a maior parte da sua vida de jogador no clube da sua terra, o Merelinense FC. Esta época não correu de feição, mas hoje ele joga bem. Recebe outra bola, dá dois toques, passa por dois defesas, vê o guarda-redes adiantado e marca um bonito golo de chapéu. Corre em direcção à bancada e dá um beijo à mulher. É o último jogo da sua carreira e faltam cinco minutos para tudo acabar. O Merelinense está empatado e precisa de ganhar para subir à divisão de honra regional. Cajó recebe a bola das mãos do guarda-redes e caminha até ao meio campo. Com uma finta de corpo deixa três adversários especados. Levanta a cabeça e não vê companheiros desmarcados. Segue só, ele e a bola. Dá um toque pequeno e passa com um chapéu sobre o defesa. Sobram só mais dois e o guarda redes. Em frente aos dois centrais engana-os, aldraba a lógica da bola e finta. Os defesas esbarram. Cajó fica com o guarda-redes pela frente. O guardião tinha visto a jogada toda, bela, e sabia o que ia acontecer a seguir. Cajó sorriu. Puxou a perna direita atrás para ganhar força e chutou. A bola bateu no poste direito da baliza, do lado de dentro, entrou. Ainda hoje, o senhor Carlos Joaquim guarda uma fotografia desse jogo, numa gaveta do lar que fica mesmo ao lado da igreja, numa vila vizinha de Merelim.
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