Um blog partilhado por Felisbela Fonseca e Nuno Catarino.

11 junho 2004

Sumol de Ananás

Eram 14h27, segundo o relógio tirano. Nessa tarde sairia mais cedo. Ela já não estava ali, a cabeça voava sem destino certo, sem querer saber das ordens da razão ou do vento que a guiava. Mordeu o lábio, pensou nele, pensou no sábado, dia de dormir até tarde, pensou nele, mordeu o lábio. [N]

A tarde passava depressa. Às vezes parecia mais lenta. De qualquer forma hoje seria um dia sem ele e só o morder do lábio talvez não chegasse para disfarçar a sua ausência. Mordeu o lábio. [F]

Ele não gostava daqueles programas, era feliz em sítios longe dali. Ela era diferente. E eles uniam-se por essa aparente oposição de formas de ser. A tarde já tinha passado quase toda e ela estava mais ansiosa e feliz. Apesar disso ele ia estar longe. Trocava a noite toda por ele inteiro, queria mordê-lo, ele não estava. Mordeu o lábio. [N]

O lábio já sabe a sangue. Às vezes achava que era mais feliz sem ele e outras vezes parecia que a sua ausência a sufocava. A diferença, tão boa, para o bem e para o mal. O lábio quente. Talvez não trocasse aquela noite por ele, talvez já tivesse trocado quase tudo por ele, outras noites, dias inteiros, para no fim morder o lábio. Au! [F]