Asas
Dá-me a mão, que tenho frio. E não me deixes desamparada. Sabes que não gosto quando me deixas assim, sozinha na minha nuvem, à tua espera, enquanto voas livre e radiosa, o azul do céu fica ténue quando passas, e só se vê a ti, o resto desaparece, como num filme, em que no meio da multidão está uma rapariga sozinha mas no meio de tanta gente a gente só a vê a ela. Mas dá-me a mão, outra vez. Deixa-me agarrar-te essa mãozinha leve mas que eu sei tão segura. Sei de todas as vezes que deixo de olhar lá para cima pelos buraquinhos, fecho os olhos e concentro-me no teu bater das asas, tão grandes, tão brancas, sim, oiço-as brancas, é tão suave o teu voo. E quando te deixo de ouvir abro os olhos para te ver ainda mais um bocadinho. Depois é só mais um bocadinho, até que me entristeces pelo resto do tempo, esse tempo que não me deixam matar, quando te tranformas no ponto longínquo que desapareceu no azul que te foge. Alegro-me depois quando sei que só faltam dois dias até caires de cansada nos meus braços, dás-me as tuas asas, a nossa nuvem fica mais húmida, e juntas fazemos uma viagem breve pela eternidade.
[NC]
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