Um blog partilhado por Felisbela Fonseca e Nuno Catarino.

26 janeiro 2004

Chuva

Sincopado... Sincopado! Ele bem tentava obedecer mas o corpo não o deixava. O seu excesso de peso impedia-o de exercitar todos as provas correctamente. Ele tentava, esticava-se mas não chegava lá. A mãe continuava a pagar as aulas de ballet mas já sabia que seria apenas para dar a alegria, temporária, ao filho. Há muito que a profesora lhe disse que o filho não tinha a vocação, a agilidade, a sensibilidade, o corpo... Mas ele, com vontade, continuava a lutar contra a evidência. Gostava dos laços cor de rosa com que embrulhava as suas banhas, transformado de pote redondo em bola como daquelas que se oferece no Natal. Alzira, vem cá abaixo, o teu filho está outra vez a mexer nos teus laços! Houve uma vez que foi apanhado a brincar com a blusa de seda da mão, aquela valiosa, o melhor presente que o marido alguma vez lhe tinha dado. Sem querer estragou-a. Escondeu-a e chorou muito porque sabia do gosto que a mãe lhe tinha. Um dia, ia na rua, e começou a crescer, cresceu, e de um momento para o outro tranformou-se numa gigante bola, às cores: verde, vermelha, roxa e amarela. Cresceu tanto até que rebentou. Na cidade chouveu cores até ao fim do dia.
[Nuno Catarino]


[Felisbela Fonseca]