Faz de conta que é Maio
O silêncio das manhãs de feriado faz quase crer que o mundo acabou, que a agitação global se cansou e que afinal não há greves nem terrorismo, não há crises políticas, não há burocracias nem subsídios de desemprego atrasados seis meses, não há inflação nem urgências hospitalares, licenciaturas sem saída profissional nem estudantes bolseiros a jantar na sopa dos pobres, não há assaltos à mão armada, não há tunnings a varrer as estradas com uma foice, não há cancro nem sida, nem prostituição infantil. É dia um de Maio a acordar na lentidão das longas manhãs de primavera. Ainda agora Maio começou e ainda é tão longe. Já não há multidões na rua a agitar as almas e as consciências, a fazer das palavras e das pedras da calçada mais do que se diz e mais do que o chão que se pisa. As gentes já se calaram e já não se alvoraçam e preferem render-se à lazeira mundial do início do mês.
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