Um blog partilhado por Felisbela Fonseca e Nuno Catarino.

13 outubro 2004

Vou de comboio de Lisboa até um lugar qualquer num dia solarengo em pleno outubro

O comboio vai cheio de gente. Não sei qual é a minha estação ou apeadeiro. Se a viagem fôr longa tento aconchechar-me num dos assentos corridos de napa cor de vinho, dos antigos, gastos, onde cabem três ou quatro pessoas apertadas mais a tralha que se traz da terra e deixo-me adormecer com a mochila agarrada a mim para não haver nenhum azar. O discman ajuda a desligar das conversas alheias e distrai pensamentos obsoletos para vidas tão curtas. Sim, a vida é para se viver e há coisas em que não se deve pensar muito. Talvez seja assim que todas as pessoas do comboio fazem e por certo não será um exercício muito complicado. Talvez. Mas sou só eu que não sei para onde vou. |f|

O inverno caiu hoje sobre o dia. Acabaram-se as mangas curtas e a noite adormeceu mais cedo. Estava na estação à tua espera. Passei a tarde toda à espera. Nunca se sabe o que pode acontecer, eu tive medo. Temi que não viesses, que te arrependesses, que tivesses preguiça e escolhesses ficar fechada em casa a gastar pacotinhos kleenex enquanto desperdiçavas tempo a pensar no "podia ter sido". Sorrio quando te vejo chegar. A vida não se pensa (muito). Vamos vivendo, enquanto houver oxigénio para as emoções. Sorrio quando vejo o comboio chegar. Vens carregada, eu ajudo. Não olhes para trás, só nos podemos arrepender do que não vivermos. |n|