Um Dia Haverá Luar no Inverno
Prefiro os dias limpos, quentes e alegres. Há mais pássaros e menos pulgas, mais sorrisos e menos camisolas de lã. Num apartamento pequeno da Brandoa o betão escuro, feio e triste dos prédios sujos esconde a ansiedade de uma vida insatisfeita que só os matraquilhos do futebol da televisão conseguem disfarçar. As latas de cerveja, agora amontoadas no caixote do lixo, ajudam a evitar momentos mais difíceis, é duro enfrentar uma vida que não gosta de nós. Lá fora ainda é de noite. |N|
O cinzeiro enche-se de beatas dos cigarros que ajudam a matar esse tempo sozinho que passa vagoroso demais. À noite adormecesse a alma cansada de tanto correr... foi assim que tudo começou, depois do cansaço. Sentou-se na cadeira robusta comprada orgulhosamente no IKEA quando ainda era loja não acessível ao denso subúrbio de Lisboa, descalçou os Camper já gastos, desabotoou o primeiro botao das calças de ganga e ficou ali. O cansaço mata tanto, tão devagar... ainda é de noite. |F|
<< Home