Modo Breve de Morrer (Parte I)
Sente o suor que escorre de mim e diz-me boa noite, embora seja apenas de tarde e este cubículo fechado tresande a maldade empresarial, acaba com o teu amor em part-time e vem ter comigo de vez, mata a ansiedade que chove em mim, pesada, deixa-me ser teu assim muitas vezes fechados em suor ou então só mais uma vez mas com o tempo todo, para que o mundo acabe bem. E molhado, como tu quando me sentes no teu ouvido a trincar esse breve momento de céu, deixa-me morrer, mas por amor de Deus, larga-me o sapato e deixa-me a camisa, que isto não são modos de receber clientes. E antes que a chuva acabe de vez lá fora vai-te embora que ele já deve estar à tua espera, e se fosse mentiroso como a primavera dizia-te que não me importava que fizesses o mesmo, só por imaginar sempre a tua pele ao dispor dos meus dentes afiados de calor. E nem que passasse mais meia hora conseguia perceber a frase que deixaste presa ao meu peito, triste, peludo e nu, pensativo pelo resto da semana até ao dia em que te vir sozinha às compras no centro comercial e te convença a levar o detergente em promoção para que acabemos mais uma vez deitados a beber os dias líquidos cheios de pressa para que a cerveja não fique morta. Como nós. [NC]
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