Antes, quando ainda não tínhamos um chip dentro da pele, junto ao pulso, a vida pulsava mais!
Não sei onde está o passe. Raios! Deve estar na carteira mas não o consegui identificar no meio de todos os outros cartões. Temos a carteira recheada de cartões iguais. Cartões plastificados com a mesma e exacta medida, uns verdes, outros azuis, cor de rosa e outras cores, uns com fotografia, outros chip ou banda magnetica, a versão pós-moderna de existências, pertenças e habilitações. Não sei dele e o metro está quase de partida. Sem tempo para uma busca mais atenta ao dito passe, pousei a carteira sobre o sensor electrónico e as portas abriram É quase magia. Mesmo assim perdi o metro. [FF]
Por momentos perdi-te. Pensei que viesses com elas, as outras, aquelas para quem estar não significa nada. Um par de minutos que cheguem mais cedo a casa vale-lhes mais que a partilha possível de emoções. Isso não é nada e eu esperar-te continua a não ser nada, afinal eu sempre tive razão: aquilo que nos une é tão frágil que se quebra na chegada do metro à estação. Às 18h32 tudo se vai. Tu também. Eu fico mais pobre. [NC]
Sempre disseste, repetiste mais que uma vez e mesmo assim nunca acertaste. Ficamos todos mais pobres de todas as vezes que não deixamos que o tempo se perca. Depois das 18h32 sigo para o comboio que me leva sempre para o mesmo lugar, sempre pelo mesmo caminho, quase sempre as mesmas caras, os mesmos olhares vazios. Estamos todos pobres. [FF]
Acertei e tu sabes bem que tenho razão e é essa evidência triste que nos desfaz em pedaços moles. Talvez fossemos maiores se pudessemos prolongar tudo o que nos deixa. Mas somos estúpidos e a banalidade de que somos feitos abafa qualquer hipótese de fuga. Nunca foste mais que isso, nunca somos. Mas sei que se quisermos podemos ir mais além. [NC]
O dia a acabar e eu sem saber se serei mais estúpida do que banal ou se posso ser, talvez, uma fuga. [FF]
Sabes bem que seremos sempre mais que isso. Tu sabes e sentes que sim, gostas é de te enganar. Mas hoje é tarde. É o fim. [NC]
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