Um blog partilhado por Felisbela Fonseca e Nuno Catarino.

13 maio 2004

Razões da Impossibilidade

Penso nisto e tenho frio, é tudo tão impossível e é só o que nos faz viver. Só te peço que não te deixes escorregar para a vulgaridade, tu és tanto mais que isso. Não posso pensar mais. Um beijo no pescoço acabaria tudo, semanas de ternura e depois nada. Por isso acaba antes de começar. Não vás. Fica. Vai. Não sei. Não me mates, é isso, eu estou apenas doente. [NC]

Todos os dias fazes essa cena e desde que estás doente ainda pior! Desculpa-me se te magoo mas és um péssimo doente. Disse-te que era melhor assim, que sei que somos parte um do outro mas somos uma impossibilidade a dois. Ontem depois de te ver, depois de te ouvir dizer coisas que sabes que dispenso e depois de calar tudo o que não saberias entender, depois, ainda pousei os meus lábios sobre os teus, ainda te dei uma festa como se fosses um menino e ainda deixei que uma lágrima desenhasse o meu rosto e acabasse no pescoço que gostas de beijar devagarinho. Tenho de ir senão quem me mata és tu! [FF]

"És um péssimo amante" - tinhas mesmo de me cuspir isso antes de passares para lá da porta? É isso que procuras na banalidade musculada daquele bronco que te paga copos em troca de ti? Desculpa se te sufoco, mas agarro-me à vida por ti. Não me interessam as luas ou as noites sem ti. Preferes esse calor do outro e és feliz assim. É por isso que me mato. [NC]

A doença tem-te amargado! Sabes que te quis mais do que a qualquer outro homem, que fui para ti a mulher que mais ninguém conheceu e que me fazes sempre menina de todas as vezes que me afagas o rosto com essas mão enormes para depois fazeres chover beijos sobre os meus olhos. Sabes que não existe mais ninguém, que ele é só uma companhia para os copos que testemunha a minha embriaguês de amor. Nunca me chamaste amor, nem eu a ti! [FF]

Connosco nunca houve essa necessidade de verbalizações afectivas. O toque da tua pele sempre bastou. Agora que esse pequeno grupo vestido de preto me olha, triste e saudoso, tu já não me olhas, tu afastas a cara e eu, mesmo de olhos fechados, vejo que afinal talvez por alguma vez tivesses sido minha. [NC]

Contaste-me o sonho vezes sem conta com ínfimos detalhes como se tivesse acontecido instantes antes, como se tivesse mesmo acontecido, e eu sentada ao teu lado a agarrar-te as mãos suadas e a ver-te numa expressão que não conhecia, em absoluto desespero. Foi a pior noite de todas. Vi o dia acabar e passei a noite em claro sem saber o que fazer, a querer acreditar em qualquer coisa. O dia nasceu outra vez e não me fui embora porque queria que me visses quando acordasses. Se pudesse levava-te para casa comigo e oferecia-te o lugar previligiado da velha poltrona que herdei da minha avó e que sempre foi teu nos nossos serões de inverno e depois fazia chá de ervas com um casca de limão e um pouco de mel. [FF]