Um blog partilhado por Felisbela Fonseca e Nuno Catarino.

27 janeiro 2005

Silêncios da Vida Conjugal

Há horas que está com aquela cara. As manhãs são sempre agitadas com tanto trabalho. O telefonema interrompeu a rotina dos papéis, do agrafadores e saca-agrafos, transformou-lhe a cara alegre, subiu-lhe a sobrancelha. Não disse mais nada nem o rodopio ocasional da sala lhe levantava o olhar fixo no scanner. O sobrolho só descansava perante a fotografia do bebé exposta de forma cuidada sobre a secretária. Todas os dias havia conversas sobre fraldas e desenhos animados no canal Disney, todos os dias havia sorrisos doces apesar das olheiras ou outros sinais mais ou menos evidentes da vivência absoluta da maternidade. Olhou para o telemóvel vezes sem conta, tantas quantas as vezes que recebeu olhares reconfortantes da colega do lado. O telefone não voltou a tocar até ao final da tarde.
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